Por Trás dos Tremores – Relato de uma Mulher Adventista.

“Sexta-feira 26/02/2010 e tudo parecia normal, fizemos o culto de pôr-do-sol, e logo eu e meu esposo Rodrigo saímos para visitar e prestar solidariedade à cunhada dele, pois seu avô havia falecido pela manhã; Retornamos para casa e nos preparamos para enfim descansar, pois no outro dia despertaríamos cedo para irmos à igreja.

Durante a madrugada, às 3:34 horas levamos um susto ao perceber um tremor de leve no prédio capaz de mexer com tudo que estava dentro dele; meu esposo já estava acordado pois já havia sentindo que o apartamento estava se mexendo de leve e estava pronto para fazer o que fosse preciso; e eu como não estou acostumada, despertei assustada depois de alguns segundos quando já podíamos sentir a cama se mover.

E a primeira coisa que eu disse foi “Amor o que ta acontecendo a cama ta mexendo, o prédio vai cair” e logo ele me pediu para ficar tranqüila e não ter medo e que apenas confiasse na proteção de Deus que logo este tremor iria passar; mas não passou e começou a ficar cada vez mais forte e logo podíamos sentir o prédio balançar igual a uma árvore, as coisas começaram a cair todas, logo percebemos que deveríamos abandonar o nosso lar, e de mãos dadas tentamos sair de dentro do apartamento, e posso dizer que correr quando não se encontra o chão e com movimentos não era fácil. Foi necessário ter tranqüilidade para sair correndo a um lugar seguro sem se importar com o que havíamos deixado para trás.

Foram 3 minutos de eterna aflição, medo, pânico, e tudo que nos deixa verdadeiramente apavorados.

Quando estávamos todos juntos com a família de Marilda do lado de fora, pudemos agradecer a Deus pelo tamanho cuidado por nós.

E enquanto esperávamos o tremor passar, podia ver como os prédios balançavam pra lá e pra cá e o quanto as pessoas gritavam umas para as outras para que todos pudessem sair dali com vida antes que pudesse acontecer alguma tragédia.

O barulho dos alarmes de carros soando se juntavam aos sons de explosões em postes de energia, ambulâncias, bombeiros e policias que se misturava com os choros, gritos, pânico se transformando em um côro de tristeza em meio à escuridão total de uma madrugada.

Depois daquele tremor forte de 3 minutos intensos com grau 7 na capital, muitos voltaram aos apartamentos para buscarem chaves de carros, celulares, e roupa de frio, pois saímos do que jeito em que dormíamos; outros para buscar às pressas barracas, objetos pessoais, coisas de valor e tudo aquilo que podiam colocar em malas para esperar pelo pior. As pessoas saíam em seus carros como loucos e sem rumo outros para irem até a casa de familiares.

O que me deu mais tristeza foi perceber que assim como muitos eu não estava tão preparada quanto pensava que estava naquele momento para se juntar aos salvos quando Jesus voltar; pude sentir também um imenso vazio dentro do coração por estar longe de todos aqueles que amo, mas percebi que a mão de Deus estava sobre mim e meu esposo nos concedendo tranqüilidade, paz e plena proteção.

Também não posso negar que senti um medo inexplicável, e cheguei até a dizer ao meu esposo “Amor vamos morrer e nem pude dizer o quanto amo minha família”, e ele disse que “você não podia sentir medo de morrer, só deveria estar preparada, pois nada acontece sem que Deus permita e que seja feita a sua vontade”; as palavras dele ficavam repetindo na minha mente enquanto minhas lagrimas rolavam em silêncio.

Nós tentávamos nos comunicar com minha sogra por telefone, mas estavam todos mudos, e voltamos à Idade da Pedra, então decidimos ir até lá para averiguar se estava tudo bem, e onde passávamos víamos o rastro de destruição, como casas completas e muros ao chão, famílias gritando por ajuda, carros destruídos e um pânico em toda capital de Santiago, pois a todo momento voltavam os tremores em pequenos graus.

A falta de noticia, de comunicação, as pontes e viadutos caídos e pistas e rodovias destruídas deixaram muitos abalados por não poderem chegar ou se comunicar com os seus familiares.

De minha parte, ficamos muito preocupados por não conseguirmos nos comunicar com minha família e dizer que estávamos todos bem, mas o Senhor é tão bom que quando já estávamos cansados e aflitos por falta de comunicação, consegui enfim falar por alguns minutos com meus pais e minha irmã para tranqüilizá-los e dizer que eu os amava muito.

Todo o país ficou sem água, energia, telefone e gás, e em todas as partes as pessoas e crianças ficaram desesperadas por terem perdido tudo e estarem com sede, fome e frio, e como a ajuda não chegava tomaram a decisão de saquear todos os lugares como supermercados, farmácias, padarias e até mesmo as casas que permaneceram em pé, a fim de encontrar o que pudesse suprir as suas necessidades; todavia, existem aqueles que se aproveitam do sofrimento alheio e por fim começaram a roubar todo tipo de eletrônicos, cigarros e bebidas alcoólicas dentre outras coisas para poderem vender.

O país se transformou em um campo de guerra, onde militares deram toque de recolher a fim de conseguir a ordem pública tendo permissão de atirar em qualquer que um que desobedecesse e viesse a causar a desordem.

O caos estava em toda parte, e o que nos confortava era saber que Deus estava com nós a cada momento e que sim é possível sentir a mão de Deus nos protegendo, e novamente agradecíamos a Ele por estar ao nosso lado sempre e sempre.

Estamos vivendo estes dias com cautela sempre pedindo em nossas orações com muito fervor tranqüilidade, paz, paciência, sabedoria, proteção e ajuda para que possamos passar por mais uma provação firme e forte na promessa do Senhor. E assim meu esposo e eu mais uma vez renovamos os nossos votos com Deus, para que um dia possamos estar todos juntos com os nossos queridos no céu.

Estamos mais certos do grande dia em que o nosso Senhor Jesus virá a este mundo para nos buscar e levar-nos a celestial Canaã e que logo se aproxima cada vez mais a sua vinda, pois o mundo e as pessoas estão cada vez mais loucos e incrédulos e não abriram seus olhos para perceber que as profecias já estão há muito tempo se cumprindo e que breve chegará o dia do juízo.

“Tudo posso naquele que me fortalece.” Filipense 4:13″



Texto escrito e eviado por Dieniffer Iglésias Muñoz.

Dieniffer é brasileira, Adventista, bacharel em direito, e hoje vive com o esposo, Rodrigo Muñoz, em Cerrillos, Santiago – Chile, desde janeiro de 2010.


Mulher Adventista

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